Atlético Joseense surpreende ao anunciar técnico

O ex-zagueiro Aloísio, lançado pelo Internacional e de carreira vitoriosa nos europeus Barcelona e Porto, é o novo técnico do Atlético Joseense. Ex-assistente de treinadores como José Mourinho e Jorge Costa, ele assume um time brasileiro pela primeira vez, pois já esteve como coordenador no Porto Alegre de Ronaldinho Gaúcho.

“Conheci o Aloísio em 2004 e preparei uma estrutura, dentro dos limites do Atlético Joseense, para convidá-lo a vir. No momento, ele está conhecendo os nossos atuais jogadores e esperando alguns mais experientes que começam a chegar. Queremos um time competitivo e que também forme bons jogadores”, disse Manoel Monteiro, o Café, presidente do clube-empresa Atlético Joseense.

A estreia do Atlético Joseense na nova Série A-4 do Campeonato Paulista está programada para o dia 28 de janeiro, em casa, contra o Grêmio São-Carlense. O time concentra as atividades no centro de treinamentos montado no Volkswagen Clube, de onde deverá sair para disputar alguns jogos-treinos.

História

Uma das matérias mais completas sobre Aloísio, um gaúcho de Pelotas e hoje com 60 anos de idade, foi publicada no site da ESPN, no dia 28 de fevereiro de 2020. Confira a reprodução do texto que teve a autoria de Vladimir Bianchini e com o título “Brasileiro foi 1º capitão negro da história do Barcelona, viu Guardiola nascer para o futebol e encantou Cruyff”

O brasileiro Aloisio Pires Alves marcou seu nome na história ao ser o primeiro negro a usar a faixa de capitão do Barcelona. O feito aconteceu na vitória catalã por 3 a 2 contra o Racing Santander no Camp Nou, em partida válida pelas oitavas de final da Copa do Rei na temporada 1988-1989. Domingo, o Barça, líder, com 55 pontos, visita o Real Madrid, vice, com 53, no Santiago Bernabéu, pela 26ª rodada de LaLiga, em clássico que pode até definir o campeão.

“É um fato marcante e tenho muito orgulho disso. Todos ficaram surpresos porque eu era estrangeiro e não tinha tanto tempo de clube. Ser capitão é uma grande responsabilidade por que tinham jogadores com muita história lá dentro”, afirmou Aloisio, 56 anos, ao ESPN.com.br.

“Foi um gesto de confiança e de carinho e digno do [técnico] Cruyff. Fiquei muito emocionado. Só fui descobrir isso alguns anos depois, por que o pessoal do clube e alguns jornalistas que me disseram isso”, confessou.

Apesar de ter sido bem tratado no Barça, o brasileiro conta que foi uma vez vítima de racismo em uma partida contra o Athletic Bilbao fora de casa.

“Escutei alguns torcedores e jogadores fazendo sons de macaco quando eu toquei na bola. Eram barulhos bem tímidos, não foi algo que fizeram toda hora que peguei na bola”, lamentou.

Guardiola e Laudrup

Revelado pelo Brasil de Pelotas, o zagueiro foi aos 18 anos para o Internacional, pelo qual foi vice-campeão da Copa União de 1987. Campeão mundial sub-20 pela seleção brasileira, ele foi medalha de prata na Olimpíada de Seul, em 1988, antes de chegar ao Barça.

“Em 1987 eu fui com o Inter para fazer um torneio na Escócia e vencemos na final o Ajax, que era comandando pelo Cruyff. Eu me destaquei – creio que ali ele gostou do meu futebol – e quando ele foi para o Barcelona, pediu minha contratação”, disse.

Aloisio chegou na primeira temporada de Cruyff como treinador do clube catalão.

“Tinha sonho de jogar na Europa, mas o Barça não estava nos meus planos. O Cruyff começou a fazer o time ter mais posse de bola, mais ofensivo. O clube queria dar um salto porque ainda não tinha vencido nenhuma Champions League. Queria um futebol de domínio total e de espetáculo”, explicou.

“No começo foi difícil para mim por causa das mudanças de cultura, idioma e futebol. Fui morar sozinho no começo e não sabia falar espanhol ou catalão. Mas consegui estudar e fui melhorando na comunicação.”

Durante as duas temporadas no Camp Nou, Aloisio jogou ao lado de vários nomes famosos como o goleiro Andoni Zubizarreta, o zagueiro Ronald Koeman, os meias José Mari Bakero, Michael Laudrup e Txiki Begiristain, e os atacantes Ernesto Valverde e Gary Lineker.

“O Laudrup foi um dos melhores que já atuei junto na vida, era um fenômeno”, disse.

Pep Guardiola era jogador do time B, mas sempre completava os treinos dos profissionais a pedido de Cruyff.

“Já dava para ver que o Pep era diferenciado como jogador, no toque de bola e com muita inteligência. Mesmo novinho, ele não tremia na frente dos profissionais e tinha uma sensibilidade de domínio de espaço e tempo de bola acima dos demais”, elogiou.

Johan Cruyff

Após a medalha de prata em Seul, Aloisio chegou ao Barcelona em setembro de 1988. Contratado para ser líbero no esquema 3-5-2, Aloísio recebeu muita ajuda do exigente astro holandês.

“Quem não cumpria a parte tática, ele tirava do time. Eu devo ter sido o primeiro brasileiro que ele comandou na carreira”, afirmou.

“Eu já admirava o Cruyff como jogador, mas no dia a dia passei a admirá-lo ainda mais. Ele tratava bem os jogadores e tudo parecia muito simples na hora de explicar”.

“Em um clássico contra o Real Madrid, ele disse: ‘Entrem e desfrutem’ (risos). Ele sabia como tirar aquela tensão e responsabilidade antes de um jogo dessa grandeza. É um cara sensacional. Era um trabalho muito simples, mas de uma eficácia espetacular.”

Aloísio conta que o holandês demonstrava em campo um pouco de sua genialidade dos tempos de jogador.

“Na parte de recreação dos treinos, ele gostava de participar da roda de bobinho com a gente e não errava passe. Nunca ia para o meio da roda (risos). Tínhamos muitas atividades de posse de bola.”

“Ele falava bastante sobre o futebol brasileiro e da nossa seleção. Era bem informado sobre os destaques daqui e lembro dele comentar muito sobre o Romário. Ele já era fã do futebol do Baixinho, tanto é que o contratou.”

Real x Barça

Na primeira temporada no Barça, Aloísio venceu a Recopa da Europa (torneio então disputado com os campeões das copas nacionais) em cima da Sampdoria. Na seguinte, faturou a Copa do Rei sobre o Real Madrid na final.

“Eu saí machucado depois de levar uma entrada aos 26 minutos de jogo. Foi muito especial.”

Neste domingo, Aloisio espera que seu ex-clube derrote o maior rival.

“É o maior clássico do mundo, sempre saem bons jogos. Acho que o Barcelona está retornando a um estilo de futebol que tinha perdido. Eles tinham dificuldades em fazer gols e dominar o jogo. A motivação está incluída, é importante ganhar para caminhar para o título.”

flor

Ídolo em Portugal

Apesar de ainda ter contrato por mais dois anos, Aloísio deixou o Barcelona no meio de 1990.

“Eu queria ficar na Espanha, mas surgiram alguns clubes atrás de mim. Tinha vontade de ir para o futebol francês e poderia ir para o Montpellier, mas não houve acordo entre os clubes. Nisso, surgiu o Porto, mas eu não queria ir para Portugal. Só que os clubes chegaram a um acordo e eu fui”, explicou.

No Dragão, ele virou ídolo. É o terceiro jogador com mais partidas na história do clube e venceu 13 títulos (7 só do Campeonato Português).

“A adaptação foi muito mais fácil depois de ter passado pela Espanha por causa da forma de jogo e pelo idioma. Além disso, tinham vários brasileiros no time”, afirmou.

Aloísio aposentou-se em 2001, virou auxiliar técnico de José Mourinho e comandou o time B. Juntos, eles venceram o Português, a Copa da Uefa e a Champions League de 2004.

Ele ainda trabalhou como diretor no Gil Vicente e no Porto Alegre (clube de Assis, irmão de Ronaldinho). Além disso, o ex-zagueiro atua pelo Barça Legends, time de ex-jogadores do Barcelona.

“Resolvi voltar a morar no Brasil. Hoje eu tenho uma agência que cuida de jogadores e fiz o curso para técnico da Uefa Pro [nível máximo de formação de técnicos no continente europeu]. Tenho vontade ainda de voltar a ser treinador”, explicou.

Nas imagens, Aloísio dirigindo o seu primeiro treino no Atlético Joseense (foto de CAJ/Divulgação), em partida pelo Barcelona e como jogador e assistente técnico no Porto (fotos de arquivo pessoal).

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